domingo, 29 de novembro de 2009

Não deixe minha mãe saber

Mamãe nunca soube, mas ele era amigo de papai.
Bem, não sei nem como elucidar. Daniel foi muito amigo de Keniti quando ele ocupava o corpo de Kotani, por isso eu tenho dificuldades em chamá-lo de “pai”. Meu pai foi, por quinze anos, Axel, o companheiro de minha mãe. Nada tenho a ver com Kotani, ainda que Keniti esteja em seu corpo.
Como as coisas são estranhas...
Conheci-o pouco depois do descongelamento. Ele estava furioso e Keniti nem consegui recordar-se porquê. Com o tempo ele se acalmou, mas Keni ainda não o queria por perto. Eu já o tinha visto antes, quando ele salvara mamãe, Karine, naquela tarde que ela já não sabia mais o que fazer da vida. Daniel fora como um anjo, retirando-a das águas gélidas. Dei-lhe as bolitas que eu brincava desconhecendo seu potencial. Se uma delas se quebrasse em minha mão, talvez eu não estivesse aqui agora!
Eu percebia como seus olhos brilhavam e como ele murmurava que éramos diferentes, apesar de tudo. Ficava eu muito envergonhada até de falar. Vernam, a babá, não o olhava com o cuidado de sempre, ela só não gostava de nos ver juntos.
Como ele podia ser um velho amigo de Keni se ele parecia tão jovem? E insano...
Numa tarde fria, com o sol dourando o horizonte, ele me pegou pela mão. Estremeci. Ele podia ser engraçado, era assustador encarar seus olhos e ver mais do que eu desejava ver nos olhos de um homem...
Eu o viajava, atenta a qualquer movimento. Seguíamos pela trilha no bosque que levava a uma fonte natural de águas quentes. Do meio da fonte uma porta iluminada surgiu. Eu podia ser coisas do outro lado. Mas não eram as árvores do bosque...Resisti um pouco quando ele me puxou lá para dentro. No princípio a luz cegou-me e senti-me perdida. Mas eu logo reconheci uma Volund diferente. Não tinha nenhuma casa e sim muitas árvores. mas de longe se ouvia som de música.
“Confie em mim”. Eu não hesitei em seguí-lo por onde fosse. Vagamos a noite inteira a cavalo até que eu percebesse que o espaço percorrido não caberia de jeito nenhum em Volund! Descansamos um pouco e aproveitei mais a viagem no dia seguinte. Como a paisagem era bela! Nunca vira coisa semelhante, nem aqui nem no continente!
Daniel logo encontrou alguns amigos e me esqueceu. Ao contrário dele, os amigos estavam envelhecidos, alguns curtidos pela idade. Exceto por uma mulher de olhos tão bonitos, mas que insistia em escondê-los. Ela saíra de um mosteiro algum tempo antes e logo estaria de volta, viera apenas visitar um amigo mal de saúde. Juro que o tal parecia um pouco com Kenji, mas foi uma repentina impressão.
Estava exausta.
A notícia de que Daniel retornara percorria o vilarejo. Causava-me um mal-estar os risinhos maliciosos de algumas mulheres. Baixei a cabeça e segui Daniel porta afora. Era a cabana que um dia pertencera a ele. Descobri que o vilarejo era na verdade um acampamento das partes neutras durante a guerra em Outside (que ninguém antes tentara me explicar). Não havia luz elétrica, somente lampiões, e acredito que a situação fosse a mesma para onde quer que fosse.
Não sabia para onde estava indo, seguia cegamente a Daniel. Novamente, ele me encarou e murmurou mais algumas coisas como de costume. Eu não tinha visto que uma mulher esperava por nós...
Ficamos ambas silentes, uma frente a outra. Ela sorriu e eu notei que ela era muito parecida comigo, como se fosse uma irmã gêmea. Logo ela esqueceu-se de mim e voltou-se para Daniel. Quis sair, eu não tinha nada a ver com a situação. Pedi licença para deixá-los a sós. Novamente, ela voltou-se para mim e aproximou-se, deu-me um beijo. ra tão estranho que eu quisesse fugir mas estivesse apreciando o tempo todo estar com ela. Era como beijar um espelho. Lembro-me de pouca coisa, estive muito próxima a ela, e depois viera Daniel.
Acordei na manhã seguinte sem compreender nada. Chamei por minha mãe e por Vernam, mas ninguém atendeu. Iluminei pobremente o local, acordando também os dois. Estive perplexa por uns instantes, a ponto de escapulir. Mas Daniel não deixaria. Cobriu minha boca com um beijo e disse que não me deixaria mais.
“Não, não! Eu preciso voltar!”
Fora difícil convencê-los que eu precisava mesmo voltar para casa,, para minha mãe e para Vernam. E mesma estive a ponto de desistir. “Como é que eu poderia viver sem você agora?”, murmurei para ele. “Se eu soubesse antes... É coisa que eu não devia ter-lhe ensinado...”
Novamente, estava eu nos braços de Alexia, coisa que eu jamais em minha vida teria pensado se continuasse vivendo em Volund. Mas esse não era meu mundo e sim o de Daniel. Abandonei sofregamente minha “irmã gêmea” e refiz o caminho para o portal de Volund. Daniel me acompanhou pensativo durante a maior parte do trajeto. Talvez ele soubesse que isso era coisa que não devia nunca ter acontecido. Certo trecho do percurso ele empalidecera, puxando as rédeas de seu cavalo, mas logo recobrou suas cores normais.
E era tão diferente sem Aléxia. Eu sabia que também começaria a amá-lo, embora o sentimento fosse pequeno frente ao que sentia pela minha “irmã gêmea”.
Daniel abriu o portão iluminado e eu podia ver a água cristalina da fonte. Ele não quis me levar através dela, imaginei que teria mudado de idéia. “Tenho medo do que possa ter feito. Cuide-se, Chizuko.”
Assim, fiquei apenas uma semana em Outside — sem perceber— e voltei carregando Eve... Como eu já disse, mamãe jamais soube quem era o pai de Eve... e que também era o pai de Adam.

domingo, 25 de outubro de 2009

Projeto 24 horas no Trem

Devido a frequencia com que o tema surge em diversos contos ou estórias, resolvi fazer o projeto "24 horas no Trem". São quatro contos cuja temática é a ambientação do nosso famoso Trensurb.
Mais informações em breve.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Dark 1.1

[...]
Durante o tortuoso caminho até os arredores do vilarejo principal Zieg não fizera mais do que responder as perguntas que sua indesejada companhia direcionara-lhe. Passara distante das barracas de tecido e outras quinquilharias que atrairiam a atenção de uma mulher para não deter sua marcha.
Observando-o avançando apressado a sua frente, Ana constatou que Zieg, ainda bastante jovem, era muito delicado para uma missão solitária contra o bandoleiro. A mão apertando firme o cabo da espada não possuía calos do treinamento necessário para domá-la. As longas horas de debates com Reinhardt ou qualquer outro provaria seu verdadeiro gosto pelas atividades intelectuais. Ou seja, Zieg não passava de um almofadinha tentando provar algo a alguém. Sem muito esforço Ana pensara em Brunehilde, pois percebera o desconforto que ele apresentara logo cedo.
— Essa coisa...esse marginal tem nome? O que vamos encontrar?
Zieg continuou esquivando de algumas pessoas distraídas até perceberem a presença real e ceder-lhe passagem. Enfim, olhou de soslaio para Ana e respondeu:
— É Fragonard. Se ele atacar como o costume, serão quinze lobos expostos e sete escondidos. Ele nunca admitiu negociações, embora Brunehilde insista em tentarmos o contato. Acredito que não passe de um selvagem.
— Lobos?Você disse lobos?— Ana estacou subitamente apavorada e imóvel nas cercanias da praça principal.
Zieg retrocedeu e postou-se a seu lado, lançando olhares preocupados ao seu redor.
— Disse, senhorita. Mas não deve se preocupar com os lobos. O atraso apenas nos será desfavorável agora, vamos andando, por favor.
Caminharam mais alguns minutos e os barulhos da cidade já estavam distantes.
— Se ele costuma atacar, como pretende se defender?
Irritado com as perguntas sem imaginação de Ana, Zieg deteve a marcha e desarmou a trouxa que carregava nas costas com um movimento violento. Ele continuava segurando um dos panos, mas um segundo foi atirado longe com o movimento.
— Essas peles nos ocultarão completamente dos lobos.— explicou enquanto a via segurar a pele curtida com nojo na ponta dos dedos.
— Ah, é?—rira.
— Vocês, gente do ocidente, nunca compreendem o poder de nossos amuletos!...— esbravejara Zieg jogando a pele sobre os ombros e cobrindo a cabeça.
— Eu compreendo muitas coisas, Zieg. Não que eu duvide de seu precioso amuleto, mas não quero estar confiante demais nisso quando o bandoleiro estiver perto.
— Sem os lobos ele não poderia fazer nada. Com isso anulamos o seu ataque. Só precisamos chegar até ele...
Sem acreditar muito nas palavras de Zieg, Ana vestiu a pele e imediatamente começou a distinguir vultos floresta adentro. Os cheiros silvestres se tornaram mais acentuados e seus passos mal eram audíveis.
— Ela não só nos deixa imperceptível aos predadores como nos dá a vantagem de contar com os sentidos apurados deles. Deuses! Não deveria estar dando tantas explicações para uma criatura de pouca fé!
— Fé todos nós temos, em uma coisa ou outra...
Ambos avançavam pela beirada da floresta, subindo por uma escarpa rochosa que terminava abruptamente sobre mais uma fileira de árvores. Logo adiante a chama fraca de uma fogueira era visível, escondida outrora pela escarpa. Com a visão apurada, os dois puderam divisar os lobos espalhados preguiçosamente ao redor do fogo, algumas sombras esgueirando-se na escuridão fria longe das chamas e um homem parado ao centro acariciando os pelos de um lobo que era quase tão grande quanto ele.
Ele ergueu os olhos brilhantes no sentido da escarpa e farejou o ar. Ana se encolheu mais rente à rocha, tentando acreditar no poder da capa que vestiam.
— Zieg. — cochichara e naquelas condições não era necessário mais do que isso para que o companheiro ouvisse — Alguns homens conseguem ser mais cruéis e abomináveis do que lobos. Não sei o que esse homem costumava fazer antes, mas não sinto qualquer coisa nele agora que o caracterize como mau.
Recordando-se dos poderes que a capa dera em igualdade para ambos, Zieg evitou uma cara de esgar diante da afirmação que a forasteira poderia sentir a respeito de Fragonard. Essas habilidades nunca antes haviam se manifestado longe de Advari, entre os bárbaros do ocidente. Ele apenas fez um gesto para que ela esperasse no topo da escarpa.
[...]

sábado, 1 de agosto de 2009

Outside

Por ocasião da captura de Darksu, Kenny sofrera ferimentos terríveis. Nos primeiros momentos ele protestou e praguejou de forma bastante enérgica enquanto tentavam estancar o sangue. Mas com o passar dos dias tornou-se quieto e apático, como se sentisse a morte se aproximando.

Seus homens em desespero decidiram chamar a “bruxa” capturada para que o curasse. Trouxeram-na amarrada e, mesmo no cárcere há vários dias, ela ainda continuava bela e imponente.

— Não posso curá-lo... — um tapa e algumas queixas fizeram-na interromper suas breves palavras.

Jesica interpôs-se entre a cativa e seu agressor, protegendo-a de novos ataques.

— Isto não é realmente necessário. Não permitirei qualquer maltrato a sacerdotisa.

— Mas ela é aliada do inimigo e se recusa a cooperar conosco!

A cativa tocou levemente no braço de sua defensora e sussurrou debilmente, segurando a face espancada:

— Como eu dizia antes que os animais interrompessem, eu não posso tentar fazer isso sozinha. Quando a toquei tive certeza de que talvez nós duas possamos, sacerdotisa.

Jesica encolheu-se perto de Darksu, corada e aflita e cochichou longe dos olhos dos homens:

— Não posso! Não sou uma sacerdotisa de verdade!

— Recebeu os ensinamentos?

— Sim, mas... — ela aproximou-se mais da cativa — não pude ser sagrada... não sou mais pura.

Darksu percebeu uma tremenda angústia e vergonha quando a jovem sacerdotisa revelou seu segredo. Com um sorriso de deboche no rosto respondeu-lhe:

— Tenho certeza de que isso não tem a menor importância. Além disso, se não tentar, seu líder vai morrer diante de seus olhos porque estava amarrada a conceitos antigos.

Assustada, Jesica titubeou. Era estranho ouvir de uma sacerdotisa que parecia tão antiga para abandonar conceitos ancestrais, tradicionais. Contudo, agora que se via muito abandonada e distante do Conselho sentia que não lhe restavam muitas alternativas.

Darksu explicou-lhe em particular os procedimentos a serem realizados.

— Eu sou uma mestra de ritual. Vou conduzi-lo e você usará os ensinamentos conforme os recebeu.

Ainda aflita e nervosa, Jesica assentiu e ordenou que soltassem as amarras de Darksu. Com receio do poder da “bruxa” um dos homens esticou o braço o máximo que pôde e cortou as cordas com o gume afiado de sua faca.

Num movimento rápido e assustador, a cativa ergueu os braços e começou a cantar e gesticular. Os homens temiam-na pois em sua cela Darksu costumava resmungar palavras incompreensíveis que lhes disseram mais tarde tratar-se de palavras de maldição.

Enquanto ela cantava, Jesica executava seu próprio ritual. Algumas das palavras conseguia compreender. Subitamente, Darksu interrompeu a cantoria.

— Alguma coisa está errada. Existe aqui a vontade de cura, mas ela não pode se concretizar.

Dizendo isso avançou sobre o corpo esticado de Kenny. O homem estava imóvel e sem cor. Após observar todos seus ferimentos, observou que um deles parecia inalterado. Tocou o ferimento fazendo a tropa reagir. Jesica os impediu sentindo também que o ritual estava sofrendo interferência de algo.

O ferimento era profundo e Darksu concluiu onde estava seu problema. Ouvindo murmúrios de aflição, remexeu a ferida a procura de um corpo estranho e o encontrou escondido no corte: era um fragmento de lâmina. Jogando o pedaço de metal ao lado de Kenny, recomeçou a cantoria com as mãos cobertas de sangue.

Agora sim o ritual poderia ser concluído com sucesso, Kenny estaria, em breve, a salvo. Em poucas horas de observação, as cores retornaram a seu corpo.

Aproveitando a euforia da tropa estrangeira, Darksu recolheu o fragmento e o guardou consigo. Ainda que a tivessem flagrado pegando o objeto saberiam que a lasca de metal não serviria nem mesmo para cortar as cordas que a prendiam. Não se importavam tanto assim se por acaso engolisse a lâmina e morresse.

De volta ao cárcere, certo dia uma comoção geral na vila acordou-a de seu breve cochilo. O tumulto crescia de forma assustadora e em pouco tempo os moradores corriam como se tivessem que salvar a própria vida. E de fato, em poucos minutos isso se transformou em constatação. Podia ouvir o som de espadas entrechocando-se acima da balbúrdia e imaginou se as tropas de Kenny já teriam retornado.

A menina que lhe trazia a comida esquivou-se da massa em fuga e alcançou aflita o cativeiro de Darksu. Gritava coisas incompreensíveis, mas deixou escapar em idioma comum “é um príncipe num cavalo branco”. Depois de tê-la libertado da prisão, a menina retornou a multidão em fuga.

Esgueirando-se pra fora da cela, Darksu observou um cavaleiro avançar pela multidão. Vasculhava com os olhos o vilarejo em busca de alguma coisa. Até que o elmo indicou que encontrara seu objetivo: vinha em sua direção. Reconhecera imediatamente a armadura completa do exército de Kotanni. Seria Natya que viera resgatá-la? Ou o próprio Kotanni? Sentiu um aperto no coração imediatamente após esse pensamento ocorrer-lhe. Começou a andar em direção do cavaleiro salvador. Quando estava mais próximo, percebeu os olhos azuis e frios a fitá-la atrás do elmo. Ele estendeu a mão rapidamente e lançou-a na garupa de seu cavalo.

Sim, um cavalo branco, mas pudera perceber perfeitamente de quem se tratava. Os olhos azuis e frios pertenciam a Eliandra.

Coberta por mais uma dezena de homens de Shirov, Eliandra seguiu outra rota para longe do acampamento civil dos estrangeiros. Darksu não teve muito tempo para ficar com seu coração abalado.

— Meu pai não quis resgatá-la, Darksu. Tive que fazer isso por conta própria, desculpe por ter demorado tanto. Foi difícil convencer os homens desobedecerem a uma ordem de meu pai. — ela rangia os dentes a cada palavra — Felizmente, alguns ainda têm bom senso para perceber as implicações de deixar a mestra de ritual em poder do inimigo.

— Engana-se, Eli... Ele não se recusou, fui eu quem pediu pra não ser resgatada imediatamente... Mas já cumpri meu objetivo no acampamento inimigo.

— O que exatamente esteve fazendo no acampamento civil?

— O acampamento não é exatamente o que pensa. Kenny estava se recuperando de ferimentos de batalha nele.

Eliandra interrompeu a corrida. Imaginava que já estivessem fora de perigo após tanto tempo de cavalgada. Darksu se encolhia debaixo do manto atrás da outra mulher na sela.

— Acho que estamos sendo seguidas.

Discretamente, Darksu começou a murmurar algumas palavras que não faziam o menor sentido para Eliandra. A mulher, sacando a espada, sentiu um frio percorrer-lhe a espinha neste exato momento. O cavalo remexia-se inquieto.

— Vamos adiante! Agora! — afoitou-se Darksu.

Sem pensar, Eliandra atiçou o cavalo. Percebeu que perdia o controle sobre o animal. A montaria estava agitada e seus instintos lhe dominavam apesar dos comandos que tentava inutilmente com as rédeas.

A mestra de ritual sabia exatamente o que deveria ter acontecido com seus perseguidores. Se tivessem sorte, estariam perdidos nos barrancos ocultos na floresta. Se não tivessem, provavelmente a fuga das montarias os teriam matado. Era incrível o poder emitido por Eliandra. E a moça, inocentemente, tentava acalmar a montaria, sem saber que ela mesma causara o alvoroço.

Nunca antes imaginara o que Eliandra poderia fazer, mas tinha uma desconfiança por causa das habilidades de seu pai. Contudo, no momento que executara o ritual, pudera sentir um pânico em sua mente que nunca antes sentira. O efeito deveria ter se propagado em círculo por vários metros. A filha de Kotanni conseguia transmitir emoções a todas as criaturas vivas ao seu redor. De fato, assemelhava-se com a capacidade de seu pai em vasculhar a mente de suas vítimas e manifestar suas vontades, algumas desconhecidas até.

Darksu lastimou-se por ser tão vulnerável a esses tipos de poderes. Principalmente porque apenas pelo intermédio de seus rituais que os demais poderiam manifestar-se. E não fora diferente no acampamento de Kenny. A sacerdotisa deprimida conseguira usar os ensinamentos recebidos em sua terra estrangeira. Provavelmente imaginara que não poderia usá-las por causa de sua pureza... Uma piada, logicamente, visto que este plano impedia qualquer manifestação de poder, independente da pureza de corpo e alma.

Olhando ainda de forma assustada para trás, Darksu chegava a algumas conclusões sobre sua visita ao acampamento de Kenny. No momento que iniciara o ritual, percebera grandes pontos de poderes muito fortes entre os presentes. Mas poucos poderiam superar o poder de Kenny. Apenas uma vez antes sentira algo parecido... Na presença de Kotanni. Abriu a mão que envolvia o pedaço de metal coberto de sangue seco. Assim que retornasse a fortaleza, com certeza faria algumas investigações sobre a ligação dos dois.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Coisas Mundanas

Algumas pessoas podem conviver anos com as coisas mais mundanas e corriqueiras e nunca se acostumar com isso. Gabriel com dificuldade inacreditável equilibrava-se no ônibus lotado espiando os prédios da avenida, tentando descobrir quanto mais teria de esperar para descer. Um ombro robusto cobriu-lhe a visão no exato momento que vislumbrava o número 1575 da avenida, local de sua parada. Num desespero que lhe era bastante habitual nesse tipo de situação, Gabriel agarrou-se a um primitivo cordão e pediu parada. No corredor esbarrara de forma deselegante em algumas moças e também ouvira algo de uns senhores (que descartou muito rapidamente, vocabulário chulo nunca o atingira) até por fim descer na parada imediatamente seguinte.

Pondo os pés no chão suspirou aliviado. A parte mais desagradável acabara de passar. Ao contrário do que seu nome poderia sugerir, Gabriel não possuía nenhuma característica angelical. Há poucos meses perdera seu pai e desde então assumira um estilo de vida bastante diverso do que a família projetara. Tingira os cabelos louros de preto, deixara-os crescer desordenadamente e não era raro vê-lo de olhos inchados. Roupas pretas tornaram-se bastante comuns ou qualquer cor semelhante (perdera um pouco de sua vaidade também, as roupas gastas pelo uso eram utilizadas até sua total ruína). Assumira um estilo de vida que comicamente sua família chamaria de gótico. Gabriel, contudo, torcia o nariz para esse tipo de rotulagem. Portanto, apenas um tio muito distante mostrara interesse por ele agora que se tornara socialmente desagradável.

Pouco sabia sobre seu pai, lembrava muito pouco dele visto que ele permanecia por longos períodos longe de casa, e menos ainda conhecia sobre seu tio. Com muito assombro ele fora comunicado da existência do negócio que herdara. O aviso dera-se há algumas semanas, porém o estado de torpor que o abatera logo após o falecimento de seu pai deixara os detalhes distantes e nebulosos.

O horário marcado era um tanto incomum. Seu tio dissera para encontrá-lo no endereço indicado, numa cidadezinha da metrópole distante uns 40 minutos da casa de sua mãe, às 11 horas da noite. Com um dar de ombros de quem não tem o menor apego à própria vida, Gabriel imaginara que o trabalho talvez deixasse apenas esse horário livre para o pobre tio. A exaustiva carga era um ótimo ponto a ponderar antes de aceitar qualquer atividade, herdando-a ou não.

Ele apressava o passo e custou a perceber porque o trajeto era tão tranqüilo: não cruzara com vivalma no percurso. A lua estava minguada no céu e uma serração irritante começava a subir quando ele estacara diante do número 1575 da avenida. Com um assombro desinteressado ele constatara que estava diante do enorme cemitério municipal da cidade.

— Isso só pode ser brincadeira — murmurara sem sentimento.

— Não. Não é, Gabriel.

Um rosto sussurrara por entre as grades. O ruído das chaves no cadeado principal foi abafado pelo ranger da grade que lhe cedia passagem.

Antes de avançar, indagou com a mesma inexpressividade no rosto.

— Pietro Albrecht?

— Sim, senhor.— ele fizera uma exagerada mesura, estendendo a mão para que entrasse.

A reação do garoto fora melhor do que esperava. Com o mesmo olhar imperturbável que seu falecido pai costumava ostentar ele entrou no cemitério sem a menor exclamação. Olhou ao redor com certo desdém. Pietro imaginou que essa deveria ser a única reação de um indivíduo de sua linhagem.

— Diga-me, tio.— ele se voltara para o estranho franzino e alto— Por acaso meu pai era coveiro e eu não tinha conhecimento disso?

O homem rira passando a sua frente na estrada, conduzindo-o por algumas vielas sem dar satisfações acerca do percurso.

— Se fosse, gostaria menos dele?

Com um aperto no peito Gabriel meneou a cabeça, seguindo atrás de Pietro.

— Não faz a menor diferença que tipo de trabalho ele cumpria. Mas é curioso que ele nunca tenha contado a ninguém... — Gabriel interrompeu-se— Pelo menos nunca contou a mim.

— Sinto muito— dissera sem deixar de caminhar— Acho que quando se lida com o tipo de coisa que seu pai e eu lidamos ficamos um pouco insensíveis. Não imaginava que isso ainda o perturbava.

— Acho que vai incomodar muito tempo ainda...

— Nah!— desdenhara— Deve ter ouvido de muitos lugares diferentes, mas a morte é só o começo. É uma energia que move muitas engrenagens.

Gabriel achara um tanto estranho falar da coisa como um negócio apenas. Mas seu tio não deixava de ter razão, o que não comentou em voz alta. Subitamente ele acenara para uma sepultura relativamente nova logo à frente. Uma caixa de mármore branco, pelo que pudera observar. A única vela quase esgotada que restara iluminava uma superfície coberta de cera derretida, flores mortas e algumas coroas de rosas retorcidas, obviamente de plástico.

— O nosso negócio é um tanto mais suave, se é que posso pôr nesses termos. Na verdade somos contratados por gente comum para zelar por sepulturas. Pessoas que não encontram tempo para cuidar da última morada de seus entes queridos... ou que não se interessam em esgueirar-se pelo cemitério apenas para isso. Por mim, está ótimo se não quiserem. Atualmente trabalho naquela ali...— apontara a sepultura novamente.

Gabriel pensara nas dificuldades de se lidar com o assunto, o que em parte explicava porque teria de trabalhar a noite. Apesar de ter dito que trabalhava na sepultura, não podia ver nenhum sinal de trabalho.

— Deve ser uma tarefa bastante pesada.

— É.— ele rira brevemente— Eu não diria pesada. Mas consome muita energia, sim. No mais, elas praticamente se limpam sozinhas...

Pietro ainda ria quando deu as costas para Gabriel e ergueu os braços cerimoniosamente no ar, como se estivesse erguendo objetos muito pesados.

A vela mortiça começou a se inclinar de forma muito angulosa e logo se apagou completamente. Agora sim assustado, Gabriel demorou a acostumar-se com a escuridão e divisar uma sombra gigantesca se erguendo do local onde antes estivera apenas a cova. Uma enorme figura se inclinava para frente e arrancava uma laje do trilho que os dois antes pisaram. Com estruturas semelhantes a braços e quase sem ruído, ela esfregava o que representava o corpo com a laje, arrancando a cera da superfície.

O rapaz sentia seu pulso tão rápido que teve a sensação que seu peito abrigava mais um coração. A sensação deixara-o a beira de um colapso.


Quase tão apavorado quanto Gabriel parecia agora, Pietro apertou os braços do sobrinho, tentando atrair sua atenção. Enquanto o gigante fazia a sua parte sem se incomodar, Pietro se perguntava onde tinha errado para que tal situação tivesse que ocorrer justo no seu cemitério.

Gabriel estava tão perturbado que apenas se deu conta do rosto lívido e olhos arregalados de seu tio quando a lua já estava baixa no céu. Ele estava emudecido, como se a situação também o tivesse pegado de surpresa.

Pietro conduzira o jovem de olhar estarrecido e fixo no chão sob os pés até a beirada de uma sepultura para sentar-se. Puxou-lhe firmemente o braço, conduzindo-o por fim até um dos bancos da trilha, deixando para trás o Golem e o Emissário.

— Sinceras desculpas, meu jovem. Imaginei que já soubesse dessa parte. Vejo agora que o caminho é mais tortuoso. Logo eu que odeio dificuldades, mas vamos com calma...

— O que é isso? — indagou indignado Gabriel quando pode voltar a falar.

— É um Golem de Pedra de Sepultura. Meu Deus. Acho que vai ser mais difícil explicar isso para você do que imaginei a princípio. Hm, bem... Sua mãe, Gabriel...

— Ah, não! O que ela tem a ver com isso?

— Até onde sei, sua mãe é wiccan. É impossível que não tenha se habituado com energias naturais dentro de sua casa, sejam elas realmente naturais ou forçadas.

Gabriel tencionou negar veementemente mas logo a imagem de sua mãe lhe viera à cabeça. Apesar de nunca aderir a nenhuma moda New Age, ela assumia muito conhecimento wiccan, dentre outros. E sempre fazia uso deles quando necessário. Gabriel deixara de acreditar nos feitiços quando crescera e ela concluíra com desespero que a trilha de seu filho seria a outra.

— Sim. — dissera laconicamente.— Mas nunca senti nada de energia.

— Logicamente, porque são energias naturais, coisa natureba mesmo. Uma bruxa wicca não pode moldar a energia que recebe, só pode usá-la da forma mais próxima à naturalidade possível. Mas aqui...— ele batera o pé no chão e Gabriel teve a impressão de que as pedras sob eles vibravam— a energia é diferente. É algo como energia maligna.

Recobrado de seu ceticismo e desapego à própria existência, Gabriel ousou:

— O senhor não me parece maligno, apesar de excêntrico.

— Exato. Maligno não é o termo correto. Na verdade tratam-se de energias muito carregadas. Grande parte vem da dor dos parentes derramada sobre as sepulturas. Meu trabalho tem pouco a ver com os já falecidos. Uso essa energia para erguer e unir as pedras à guisa de um ajudante.— ele deixara de prestar atenção a Gabriel e começara a amarrar algumas pedrinhas num cordão— Quanto mais forte a energia, mais unidas são as pedras. Esse Golem tem os braços longos demais, como pode ver.

A enorme estrutura de pedra se movia arrastando os braços no chão e entre os dedos literalmente frouxos as coroas de flores mortas. Por fim ele se deitou sobre a sepultura (que com certo horror Gabriel percebera que até então exibia um caixão recente e desprotegido) lentamente, aferrado a coroa de plástico e mal deitando a cabeça imperfeita se desmanchara novamente nas pedras de mármore branco.

Estupefato com a seqüência, Gabriel voltara a atenção para Pietro que sequer contemplara a cena. Ele passava os dedos sobre o amarrado de pedras e linha como se fosse um animal de estimação. E o emaranhado parecia responder aos movimentos, erguendo-se numa tosca imitação de um pequeno ser humano.

— Infelizmente, ou não, essa sepultura foi pouco pranteada. Não há energia suficiente sequer para que os Golem executem as tarefas.— avistara uma pedra desalinhada e com um suspiro dera um toque na linha arrebentando-a. O pequeno golem se desmanchou em pedrinhas ordinárias de brita.— Já encontrei calçadas mais carregadas do que essa... Sim, eu disse que a matriz para meu trabalho não vem de outro mundo. Mas você não tem idéia da energia liberada por uma pessoa tendo sua vida retirada de forma violenta. Isso não vem ao caso agora...

Pietro andou até uma das sepulturas e tencionou ordená-la. Seus esforços pareciam ineficientes.

— Ahn... Algumas vezes é preciso um pouco de trabalho humano. Dê-me uma ajuda aqui, Gabriel.

Com uns poucos passos ele alcançara o tio e tentava mover a enorme pedra. Sobre sua cabeça, ouvira seu tio falar com alguém.

— Tião, vai ajudar também?

Gabriel ergueu os olhos rapidamente e pulou para trás, o coração disparado. Ao lado de Pietro um esqueleto trajando um fraque carcomido e cartola empurrava a laje. A porta entreaberta de um mausoléu (e conseqüentemente o cheiro de abandono que de lá provinha) ostentava a origem do visitante.

Sozinhos os dois conseguiram arrastar a pedra de mais algumas sepulturas até que todas estivessem alinhadas. Parecia ter sido serviço mal feito do Golem defeituoso. Contudo, a imagem do esqueleto servil era chocante demais para desviar a atenção do jovem.

— Obrigado. Agora volte para sua casa, amigo. Logo terá seu merecido repouso.

Observou-o dar meia volta e trancar-se novamente no mausoléu, esconder-se no esquife e lá permanecer por tempo indefinido (toda a eternidade, julgara Gabriel). Em seguida, Pietro tomou-lhe o braço e indicou a trilha de saída.

Com um arrepio no pescoço, Gabriel teve a impressão de que era seguido por uma multidão, e Pietro a certeza de que o incidente afetara a sensibilidade do jovem sobrinho; um séqüito de almas perdidas tentava em vão alcançar o corpo agora de Gabriel e transmitir sua mensagem.

— Ainda bem— pensara Pietro— que não pode vê-los todos. Acho que a visão agora que estão atiçados seria apavorante para um jovem inexperiente como ele.

Em seguida voltou-se para Gabriel, aferrado a seu braço e segurando com firmeza a nuca deixando-o apenas olhar para frente.

— Temos muito a conversar ainda. Deixemos Tião dormir em paz...


A situação era realmente nova e inesperada. Quem poderia imaginar que Gabriel era completo ignorante com relação as correntes de energia que percorriam esses territórios e todas as complicações relativas ao fato? Pietro não saberia com proceder caso ele gritasse atraindo a atenção do zelador do cemitério ou coisa pior. Em situações normais era fácil mantê-los afastados. A magia que executava era completamente desprovida de cores e brilhos, esse monte de purpurina que se assiste na televisão, portanto era relativamente fácil criar os golem no meio da noite sem chamar a atenção. No entanto, zeladores têm certo pavor de ladrões de covas não autorizados. Pietro nunca questionara sobre os violadores autorizados, visto que nenhum dos adormecidos realmente se importava em ter seus pertences roubados ou não, reagindo apenas quando observava roubo das ossadas. Mas o fato é que fingindo ver ou não eles sempre futricavam por sobre as lápides e deparar-se com uma criatura de pedra era algo que não poderiam ignorar de todo.

Gabriel estava imóvel, Pietro temera que ele parasse de respirar, tamanho o pavor. O Golem continuava suas atividades limpando as sepulturas ao redor, limpando inclusive algumas que não faziam parte do contrato.

Foi então que ouviu um sussurro, uma tentativa de fala de Gabriel:

— Pietro...

Ele se aproximara. A voz tornara-se subitamente altiva e retumbante.

— Pietro, meu filho é ignorante em toda a arte. Lamento este ser meu único fracasso...

Desdenhando da falta de modéstia, Pietro reconheceu imediatamente a presença de seu Irmão. Ficara tão surpreso com a capacidade então presente em Gabriel que quase não conseguira balbuciar um cumprimento.

— Quero que você o doutrine por mim. Quero que ele se torne melhor do que eu na arte.

— Mas Irmão... Não seria este apenas um desejo de sua morte? Posso perceber sim, algum dom em Gabriel. Mas nem de longe ele poderia seguir a sua trilha...

— Irmão.— a voz soara mais grave e dolorida, a porta de um mausoléu próximo abriu de supetão em resposta— Bem sabes que esses entraves com o mundo a que não pertencemos enfraquece a energia que nos mantém. Não creio poder surgir novamente e repetir a mensagem. Desconheço a forma de minha morte, mas afirmo que esta era minha vontade em vida. E deve ser seguida.

Pietro assentiu rapidamente. A morte de seu Irmão fora em circunstâncias suspeitas e não teria capacidades para averiguar a verdade que apenas um necromante teria neste momento. Seu Irmão pouco sabia sobre a força que ainda tinha, mesmo sem um corpo físico de sua posse. Tomando o corpo de seu filho, que apresentara alguns domínios sobre a energia, ele conseguira mover do caixão e para fora de seu mausoléu um esqueleto bastante antigo, um emissário de seu poder. (Pietro comumente chamava-os de Zé ou Tião ou qualquer nome simples que lhe viesse à cabeça).

Talvez, de forma inconsciente, ele indicara a resposta para a resolução de seu próprio assassinato. Apesar de lidar com tanta frieza com o assunto, Pietro condoera-se pela morte prematura de seu Irmão de Ordem. Naqueles tempos, era muito raro encontrar alguém tão capacitado para domar as linhas de energia como os dois eram. Juntos, logicamente, conseguiam bem mais do que limpar sepulturas em estado de abandono. Agora, isso era tudo que restara a Pietro...

Esperou mais algumas instruções, respondendo com a voz embargada, mas evitando as lágrimas. De certo que ensinaria a seu filho todas as linhas da arte. E mesmo que demorasse uma vida inteira eles encontrariam o atirador. E nem a morte poderia evitar a vingança.

Depois Gabriel piscou aturdido sem compreender por instantes porque seu tio o encarava lívido.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Prelúdio de um crápula juvenil

Eric Harper

Convencido? Hahaha! Não preciso disso. Meus magníficos atributos são proferidos pelos doces lábios das damas que me visitam....

Qual é seu nome?
Eric Harper.
Como é sua aparência? Como as pessoas te veêm? Como tu te vê?
Ruivo, olhos azuis, com 1,98 costumava ser o mais alto da turma. As pessoas me vêem como um rapaz boa pinta, mas despojado. Dificilmente uso trajes formais, mas também não aprecio jeans e malhas. É, posso dizer que calças e camisas sociais costumam sair com mais freqüência do meu guarda-roupa.
Nasceu em que dia?
28 de outubro de 1992.
Aonde você nasceu?
Toronto, província de Ontário, Canadá.
Quem são seus pais? O que eles fazem? Como eles influenciaram o ser que você é hoje?
Stephen Harper e Laureen Harper. Minha mãe, pelo que me lembro, sempre foi muito passiva, cuidando da casa quase como uma das demais empregadas. Meu pai é administrador e muito rígido. Viaja muito a negócios. Vê em mim uma ameaça e uma chance de dar continuidade aos seus interesses. Nossa semelhança deve fazê-lo sentir-se acuado, bem como meu interesse em medicina adquirido após o “high school”. Muito jovem fui encaminhado para o colégio interno, logo que minha família mudou-se pra LA. Então não posso dizer que sofri muitas influências dos dois, pois vivi a maior parte do tempo estudando. Não creio que tal influência exista.
Possui irmã(o)(s)? Como se relaciona com eles?
Desconheço a existência de irmãos. Acho, inclusive, que meu nascimento foi acidental. Família extensa nunca esteve nos planos de meu pai.
Quanto aos estudos? Qual sua formação? Algo no colégio te ajudou a chegar nesse ponto?
Completei o high school recentemente. Durante o tempo do colégio, estudei com pessoas que me fizeram ter profundo interesse em medicina, como a família de Ian Rustamov. A família de Ian também é do Canadá e são por tradição médicos, enfermeiros e parteiros em províncias carentes destes serviços.
Quais seus hobbys? O que você faz para passar o tempo?
Tenho uma habilidade para truques que envolvam rápidos movimentos de mãos. Aprecio um jogo de cartas e abuso da empatia excepcional que tenho para perceber variações emocionais tanto no carteado quanto nas investidas amorosas.
Você pratica algum esporte? É bom em alguma atividade física?
Esgrima, no colégio costumava praticar bastante, inclusive participei de alguns campeonatos. Essas exibições de performance masculina costumam aglomerar muitas mulheres...
Quanto aos teus relacionamentos? Possui algum grande amigo(a)? Alguma relação especial?
Ian Rustamov foi um grande amigo de quem me aproximei sobretudo por causa do local de nascimento. Philip Harvey, embora o Marcos não tenha me detalhado como, a princípio eles se conhecem.
Hoje em dia o sexo está banalizado. O que você pensa sobre o assunto? Já teve/tem relações?
Penso o tempo todo. A princípio acreditei que fosse uma questão hormonal, mas transformei-o em arte. Já tive relações sim, com mulheres que ainda me visitam. No colégio e na casa de meu pai também. No entanto, nunca desenvolvi sentimentos possessivos por nenhuma delas. Acho que a preferência das mulheres por um homem ou outro depende do talento dele.
Você possui algum valor moral/ético que acredita deve ser defendido e/ou preservado?
Todos. Um bom conquistador deve ter todos os valores éticos e morais impecáveis diante das damas. Mas isso não significa, obviamente, que correspondam as minhas reais intenções. É só uma questão de saber exatamente qual valor tem peso maior para a dama em questão.
A religião é algo presente no seu dia a dia? Qual sua formação religiosa?
Não. O colégio tentou empurrar conversa religiosa católica sobre mim, mas eu fingia estar interessado enquanto pensava nos pecados da carne. Minha família é católica mas não praticante.
Como um individuo dentro de um ambiente globalizado, o que você acha estar certo/errado dentro de uma visão ampla de mundo?
Lógico que depende de ponto de vista. Certo e errado não podem ser definidos numa cartilha, vai depender dos valores em questão e das pessoas envolvidas. Posso ser extremamente imprevisível neste quesito.
A tecnologia é a vilã ou a salvadora do mundo? Qual seu grau de dependencia tecnológica?
Desenvolvimento tecnológico é inevitável, o ser humano evolui às custas dele. Dependo de telefones e pagers, mas não tantos de computadores ou televisão. Carros são fundamentais, é lógico. Hoje em dia é difícil impressionar uma dama sem um deles.
Como morador de uma grande cidade você se considera plenamente adaptado a todos os fatores que compõe hoje o mundo urbano? Explique:
Sim. A única coisa que posso julgar natural em mim é a necessidade de envolver-me com todas as fêmeas possíveis. Estou bem posicionado socialmente e tecnologicamente. Não acredito em Deus e nem no diabo, transito com desenvoltura nas ruas e pretendo realizar alguma atividade que me renda algum dinheiro enquanto me divirto.
A natureza é algo que está lá fora ou é um ambiente maior dentro no qual todos estamos inseridos? Explique:
Natureza “mato” é algo que em breve não veremos mais. Agora, entendimento do funcionamento do corpo é algo bastante presente em meus estudos, tanto biológicos como emocionais. É impossível viver sem isso.
Fale aqui das coisas que você gosta, daquilo que move a sua vida e lhe faz se sentir bem:
Gosto de mulheres, de manipulá-las e fazê-las sentir a falta do meu toque, para que assim elas retornem mais vezes. A casa de meu pai é um paraíso onde as mulheres transitam livremente cuidando de suas tarefas. Não existe mulher desgraciosa, apenas com atenção negligenciada, logo, todas merecem apreciação.
Descreva aqui os elementos que tornam o mundo um lugar pior de se viver, me diga o que você não gosta:
Não suporto o calor. Nunca entendi por quê meu pai escolheu a Califórnia para morar. Tolero a presença de homens mas devo dizer que a convivência com eles é puramente estratégica.
Por fim, algo nesse mundo te assusta? Te paralisa de medo? O que você mais teme?
Temo rejeição. Ser ignorado, rejeitado, levar um fora. Até o momento isso nunca aconteceu e uso todos artifícios possíveis para que as pessoas realmente me amem. Este amor cria uma dependência dos outros por mim, porque, afinal, dependo dessa apreciação.

Prelúdio de campanha em andamento

Andarilho do Asfalto Theurge


Eu não nasci no mundo de Gaia.
Quando aqui cheguei ele já estava tomado pela Wyrm. Nunca vi aquelas florestas enormes, a não ser por figuras em livros. Nunca vi um mortal ou Garou serem gentis e afáveis. Já vim ao mundo como o resultado indesejado de uma aventura: com a marca da impureza. Assim sendo, apenas com a vontade débil e tênue dEla é que um casal de parentes aceitou iniciar minha educação. E nossa relação nunca passou muito disso.
Cresci sendo vigiada a distância. O fato de parentes me terem sob sua guarda nunca aliviou nenhum dos Garou das redondezas. Sempre havia alguém lá para tentar deter meu frenesi, para evitar que eu entrasse em contato com as pessoas erradas, sempre sabendo mais da minha vida do que eu própria. Durante muitos anos acreditei que fosse uma forma de carinho.
Então chegou o dia de conhecer o Caern. Estava ansiosa por saber mais sobre meus verdadeiros pais. Observava a todos os Garou com atenção, dois deles seriam meus pais. Nunca os tratei com exagerada deferência ou com indiferença. Cada informação era preciosa.
Mas eles nunca falaram. Nunca comentaram nada. A princípio acreditei que como durante toda minha infância eles queriam me preservar...mas apenas estavam preservando a si mesmos.
Nas longas horas de solidão e dor eu podia contar com os espíritos. Para eles somos todos aberrações destoantes do mundo que nos cerca. O fato de terem contato com uma aberração em especial não fazia muita diferença.
Os anos podem ter passado muito vagarosamente pra você que não aturava mais aquelas aulinhas chatas na escola, com aquele monte de crianças estranhas ao seu redor se sentindo um animal enjaulado...pois eu me sinto assim todos os dias da minha vida, entre mortais, garou, lupinos...perdi o vínculo com Gaia desde a minha chegada a este mundo. Cada doloroso dia é insuportável e esperanças pro futuro não há.
Os garou não gostam das minhas visões de sangue, morte e destruição, mas eles estão cegos. Querem ver coisas bonitas que estão tão distantes da nossa natureza...da sua natureza.
Apenas meu sangue Andarilho ainda me prende a esta terra. Se não fosse por essa minha incrível afinidade com a cidade, eu já estaria na Umbra, com os espíritos, aprendendo coisas com eles. Os espíritos estão distantes dessa dor e sofrimento...ou eu acredito que podem me manter distante disso.
Mesmo depois de ingressar na vida do Caern, continuei mais próxima dos Roedores do que os demais. Creio que isto possa estar relacionado com a tribo de meus pais. Eu sinceramente não me importo se eles forem roedores. Não há como eles me tratarem com mais indiferença do que têm feito.
Ah, sim. O fato de eu ter dito que não nasci no mundo de Gaia não significa que eu tenha alguma mácula da Wyrm. A mácula que tenho é excesso de amor pela Mãe, que de certa forma foi a única a me tratar bem. Os embates que travo hoje não são pelos garou ou mortais do presente, e sim pelos que virão. Nascer num mundo cada vez mais distante de Gaia gera crianças com tamanha dor, que elas lutarão para que ninguém mais presencie um cenário desses...

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Chegando a algum lugar [estranho]

O passeio escolar deveria ser o evento mais interessante que tivera em muitas semanas. Contudo, Paula estava entediada em seu banco dentro do ônibus. O dia estava nublado, o que prejudicaria bastante a diversão no parque das águas. O seu melhor amigo, Juliano, tentou algumas vezes animá-la de que o sol poderia sair detrás das nuvens durante a próxima hora do trajeto, mas nem essa perspectiva melhorou seu humor.
Olhando pela janela um arco-íris incompleto surgiu quando passavam pela ponte acima do vale. Os colegas, gritando e cacarejando ao seu redor não pareceram ter prestado atenção no detalhe da paisagem um minuto sequer. Era tão bonito mas encheu seu coração de tristeza que nem mesmo Juliano, agora divertindo-se com um mini-game, contemplou a aparição.
Então, enquanto Paula pensava que o descuido das pessoas com relação as belezas da natureza não tinha conserto, do alto do arco-íris um ponto luminoso explodiu em centelhas brilhantes. Do meio das fagulhas uma fada escorregou pelo arco-íris até sumir onde a imagem colorida ia se desfazendo.
O arco-íris caía sobre o parque das águas, pudera ver assim que viraram uma curva. Ao visualizar o destino do passeio os colegas quase viraram o ônibus de tanta algazarra.
Paula, de olhos arregalados, olhou ao redor para saber se mais alguém também vira o estranho acontecimento.
- Juliano, você viu aquela coisa em cima do arco-íris?...
- Por Deus, Paula! A bateria do jogo acabou bem na hora que aquela coisa apareceu! Não acreditei quando vi, achei que ainda estava jogando!
- O que será que era?, perguntou olhando pela janela novamente.
- Era o Mario!, Juliano apontou o mini game desligado para a amiga.
- Claro que não era um boneco gordo de video-game, Juliano! Eu vi uma fada.
Paula olhou com receio o interior do ônibus, mas ninguém, além de Juliano, parecia ter ouvido a declaração. Ainda bem, senão pensariam que estava doida ou coisa assim.
[...]