sexta-feira, 31 de julho de 2009

Coisas Mundanas

Algumas pessoas podem conviver anos com as coisas mais mundanas e corriqueiras e nunca se acostumar com isso. Gabriel com dificuldade inacreditável equilibrava-se no ônibus lotado espiando os prédios da avenida, tentando descobrir quanto mais teria de esperar para descer. Um ombro robusto cobriu-lhe a visão no exato momento que vislumbrava o número 1575 da avenida, local de sua parada. Num desespero que lhe era bastante habitual nesse tipo de situação, Gabriel agarrou-se a um primitivo cordão e pediu parada. No corredor esbarrara de forma deselegante em algumas moças e também ouvira algo de uns senhores (que descartou muito rapidamente, vocabulário chulo nunca o atingira) até por fim descer na parada imediatamente seguinte.

Pondo os pés no chão suspirou aliviado. A parte mais desagradável acabara de passar. Ao contrário do que seu nome poderia sugerir, Gabriel não possuía nenhuma característica angelical. Há poucos meses perdera seu pai e desde então assumira um estilo de vida bastante diverso do que a família projetara. Tingira os cabelos louros de preto, deixara-os crescer desordenadamente e não era raro vê-lo de olhos inchados. Roupas pretas tornaram-se bastante comuns ou qualquer cor semelhante (perdera um pouco de sua vaidade também, as roupas gastas pelo uso eram utilizadas até sua total ruína). Assumira um estilo de vida que comicamente sua família chamaria de gótico. Gabriel, contudo, torcia o nariz para esse tipo de rotulagem. Portanto, apenas um tio muito distante mostrara interesse por ele agora que se tornara socialmente desagradável.

Pouco sabia sobre seu pai, lembrava muito pouco dele visto que ele permanecia por longos períodos longe de casa, e menos ainda conhecia sobre seu tio. Com muito assombro ele fora comunicado da existência do negócio que herdara. O aviso dera-se há algumas semanas, porém o estado de torpor que o abatera logo após o falecimento de seu pai deixara os detalhes distantes e nebulosos.

O horário marcado era um tanto incomum. Seu tio dissera para encontrá-lo no endereço indicado, numa cidadezinha da metrópole distante uns 40 minutos da casa de sua mãe, às 11 horas da noite. Com um dar de ombros de quem não tem o menor apego à própria vida, Gabriel imaginara que o trabalho talvez deixasse apenas esse horário livre para o pobre tio. A exaustiva carga era um ótimo ponto a ponderar antes de aceitar qualquer atividade, herdando-a ou não.

Ele apressava o passo e custou a perceber porque o trajeto era tão tranqüilo: não cruzara com vivalma no percurso. A lua estava minguada no céu e uma serração irritante começava a subir quando ele estacara diante do número 1575 da avenida. Com um assombro desinteressado ele constatara que estava diante do enorme cemitério municipal da cidade.

— Isso só pode ser brincadeira — murmurara sem sentimento.

— Não. Não é, Gabriel.

Um rosto sussurrara por entre as grades. O ruído das chaves no cadeado principal foi abafado pelo ranger da grade que lhe cedia passagem.

Antes de avançar, indagou com a mesma inexpressividade no rosto.

— Pietro Albrecht?

— Sim, senhor.— ele fizera uma exagerada mesura, estendendo a mão para que entrasse.

A reação do garoto fora melhor do que esperava. Com o mesmo olhar imperturbável que seu falecido pai costumava ostentar ele entrou no cemitério sem a menor exclamação. Olhou ao redor com certo desdém. Pietro imaginou que essa deveria ser a única reação de um indivíduo de sua linhagem.

— Diga-me, tio.— ele se voltara para o estranho franzino e alto— Por acaso meu pai era coveiro e eu não tinha conhecimento disso?

O homem rira passando a sua frente na estrada, conduzindo-o por algumas vielas sem dar satisfações acerca do percurso.

— Se fosse, gostaria menos dele?

Com um aperto no peito Gabriel meneou a cabeça, seguindo atrás de Pietro.

— Não faz a menor diferença que tipo de trabalho ele cumpria. Mas é curioso que ele nunca tenha contado a ninguém... — Gabriel interrompeu-se— Pelo menos nunca contou a mim.

— Sinto muito— dissera sem deixar de caminhar— Acho que quando se lida com o tipo de coisa que seu pai e eu lidamos ficamos um pouco insensíveis. Não imaginava que isso ainda o perturbava.

— Acho que vai incomodar muito tempo ainda...

— Nah!— desdenhara— Deve ter ouvido de muitos lugares diferentes, mas a morte é só o começo. É uma energia que move muitas engrenagens.

Gabriel achara um tanto estranho falar da coisa como um negócio apenas. Mas seu tio não deixava de ter razão, o que não comentou em voz alta. Subitamente ele acenara para uma sepultura relativamente nova logo à frente. Uma caixa de mármore branco, pelo que pudera observar. A única vela quase esgotada que restara iluminava uma superfície coberta de cera derretida, flores mortas e algumas coroas de rosas retorcidas, obviamente de plástico.

— O nosso negócio é um tanto mais suave, se é que posso pôr nesses termos. Na verdade somos contratados por gente comum para zelar por sepulturas. Pessoas que não encontram tempo para cuidar da última morada de seus entes queridos... ou que não se interessam em esgueirar-se pelo cemitério apenas para isso. Por mim, está ótimo se não quiserem. Atualmente trabalho naquela ali...— apontara a sepultura novamente.

Gabriel pensara nas dificuldades de se lidar com o assunto, o que em parte explicava porque teria de trabalhar a noite. Apesar de ter dito que trabalhava na sepultura, não podia ver nenhum sinal de trabalho.

— Deve ser uma tarefa bastante pesada.

— É.— ele rira brevemente— Eu não diria pesada. Mas consome muita energia, sim. No mais, elas praticamente se limpam sozinhas...

Pietro ainda ria quando deu as costas para Gabriel e ergueu os braços cerimoniosamente no ar, como se estivesse erguendo objetos muito pesados.

A vela mortiça começou a se inclinar de forma muito angulosa e logo se apagou completamente. Agora sim assustado, Gabriel demorou a acostumar-se com a escuridão e divisar uma sombra gigantesca se erguendo do local onde antes estivera apenas a cova. Uma enorme figura se inclinava para frente e arrancava uma laje do trilho que os dois antes pisaram. Com estruturas semelhantes a braços e quase sem ruído, ela esfregava o que representava o corpo com a laje, arrancando a cera da superfície.

O rapaz sentia seu pulso tão rápido que teve a sensação que seu peito abrigava mais um coração. A sensação deixara-o a beira de um colapso.


Quase tão apavorado quanto Gabriel parecia agora, Pietro apertou os braços do sobrinho, tentando atrair sua atenção. Enquanto o gigante fazia a sua parte sem se incomodar, Pietro se perguntava onde tinha errado para que tal situação tivesse que ocorrer justo no seu cemitério.

Gabriel estava tão perturbado que apenas se deu conta do rosto lívido e olhos arregalados de seu tio quando a lua já estava baixa no céu. Ele estava emudecido, como se a situação também o tivesse pegado de surpresa.

Pietro conduzira o jovem de olhar estarrecido e fixo no chão sob os pés até a beirada de uma sepultura para sentar-se. Puxou-lhe firmemente o braço, conduzindo-o por fim até um dos bancos da trilha, deixando para trás o Golem e o Emissário.

— Sinceras desculpas, meu jovem. Imaginei que já soubesse dessa parte. Vejo agora que o caminho é mais tortuoso. Logo eu que odeio dificuldades, mas vamos com calma...

— O que é isso? — indagou indignado Gabriel quando pode voltar a falar.

— É um Golem de Pedra de Sepultura. Meu Deus. Acho que vai ser mais difícil explicar isso para você do que imaginei a princípio. Hm, bem... Sua mãe, Gabriel...

— Ah, não! O que ela tem a ver com isso?

— Até onde sei, sua mãe é wiccan. É impossível que não tenha se habituado com energias naturais dentro de sua casa, sejam elas realmente naturais ou forçadas.

Gabriel tencionou negar veementemente mas logo a imagem de sua mãe lhe viera à cabeça. Apesar de nunca aderir a nenhuma moda New Age, ela assumia muito conhecimento wiccan, dentre outros. E sempre fazia uso deles quando necessário. Gabriel deixara de acreditar nos feitiços quando crescera e ela concluíra com desespero que a trilha de seu filho seria a outra.

— Sim. — dissera laconicamente.— Mas nunca senti nada de energia.

— Logicamente, porque são energias naturais, coisa natureba mesmo. Uma bruxa wicca não pode moldar a energia que recebe, só pode usá-la da forma mais próxima à naturalidade possível. Mas aqui...— ele batera o pé no chão e Gabriel teve a impressão de que as pedras sob eles vibravam— a energia é diferente. É algo como energia maligna.

Recobrado de seu ceticismo e desapego à própria existência, Gabriel ousou:

— O senhor não me parece maligno, apesar de excêntrico.

— Exato. Maligno não é o termo correto. Na verdade tratam-se de energias muito carregadas. Grande parte vem da dor dos parentes derramada sobre as sepulturas. Meu trabalho tem pouco a ver com os já falecidos. Uso essa energia para erguer e unir as pedras à guisa de um ajudante.— ele deixara de prestar atenção a Gabriel e começara a amarrar algumas pedrinhas num cordão— Quanto mais forte a energia, mais unidas são as pedras. Esse Golem tem os braços longos demais, como pode ver.

A enorme estrutura de pedra se movia arrastando os braços no chão e entre os dedos literalmente frouxos as coroas de flores mortas. Por fim ele se deitou sobre a sepultura (que com certo horror Gabriel percebera que até então exibia um caixão recente e desprotegido) lentamente, aferrado a coroa de plástico e mal deitando a cabeça imperfeita se desmanchara novamente nas pedras de mármore branco.

Estupefato com a seqüência, Gabriel voltara a atenção para Pietro que sequer contemplara a cena. Ele passava os dedos sobre o amarrado de pedras e linha como se fosse um animal de estimação. E o emaranhado parecia responder aos movimentos, erguendo-se numa tosca imitação de um pequeno ser humano.

— Infelizmente, ou não, essa sepultura foi pouco pranteada. Não há energia suficiente sequer para que os Golem executem as tarefas.— avistara uma pedra desalinhada e com um suspiro dera um toque na linha arrebentando-a. O pequeno golem se desmanchou em pedrinhas ordinárias de brita.— Já encontrei calçadas mais carregadas do que essa... Sim, eu disse que a matriz para meu trabalho não vem de outro mundo. Mas você não tem idéia da energia liberada por uma pessoa tendo sua vida retirada de forma violenta. Isso não vem ao caso agora...

Pietro andou até uma das sepulturas e tencionou ordená-la. Seus esforços pareciam ineficientes.

— Ahn... Algumas vezes é preciso um pouco de trabalho humano. Dê-me uma ajuda aqui, Gabriel.

Com uns poucos passos ele alcançara o tio e tentava mover a enorme pedra. Sobre sua cabeça, ouvira seu tio falar com alguém.

— Tião, vai ajudar também?

Gabriel ergueu os olhos rapidamente e pulou para trás, o coração disparado. Ao lado de Pietro um esqueleto trajando um fraque carcomido e cartola empurrava a laje. A porta entreaberta de um mausoléu (e conseqüentemente o cheiro de abandono que de lá provinha) ostentava a origem do visitante.

Sozinhos os dois conseguiram arrastar a pedra de mais algumas sepulturas até que todas estivessem alinhadas. Parecia ter sido serviço mal feito do Golem defeituoso. Contudo, a imagem do esqueleto servil era chocante demais para desviar a atenção do jovem.

— Obrigado. Agora volte para sua casa, amigo. Logo terá seu merecido repouso.

Observou-o dar meia volta e trancar-se novamente no mausoléu, esconder-se no esquife e lá permanecer por tempo indefinido (toda a eternidade, julgara Gabriel). Em seguida, Pietro tomou-lhe o braço e indicou a trilha de saída.

Com um arrepio no pescoço, Gabriel teve a impressão de que era seguido por uma multidão, e Pietro a certeza de que o incidente afetara a sensibilidade do jovem sobrinho; um séqüito de almas perdidas tentava em vão alcançar o corpo agora de Gabriel e transmitir sua mensagem.

— Ainda bem— pensara Pietro— que não pode vê-los todos. Acho que a visão agora que estão atiçados seria apavorante para um jovem inexperiente como ele.

Em seguida voltou-se para Gabriel, aferrado a seu braço e segurando com firmeza a nuca deixando-o apenas olhar para frente.

— Temos muito a conversar ainda. Deixemos Tião dormir em paz...


A situação era realmente nova e inesperada. Quem poderia imaginar que Gabriel era completo ignorante com relação as correntes de energia que percorriam esses territórios e todas as complicações relativas ao fato? Pietro não saberia com proceder caso ele gritasse atraindo a atenção do zelador do cemitério ou coisa pior. Em situações normais era fácil mantê-los afastados. A magia que executava era completamente desprovida de cores e brilhos, esse monte de purpurina que se assiste na televisão, portanto era relativamente fácil criar os golem no meio da noite sem chamar a atenção. No entanto, zeladores têm certo pavor de ladrões de covas não autorizados. Pietro nunca questionara sobre os violadores autorizados, visto que nenhum dos adormecidos realmente se importava em ter seus pertences roubados ou não, reagindo apenas quando observava roubo das ossadas. Mas o fato é que fingindo ver ou não eles sempre futricavam por sobre as lápides e deparar-se com uma criatura de pedra era algo que não poderiam ignorar de todo.

Gabriel estava imóvel, Pietro temera que ele parasse de respirar, tamanho o pavor. O Golem continuava suas atividades limpando as sepulturas ao redor, limpando inclusive algumas que não faziam parte do contrato.

Foi então que ouviu um sussurro, uma tentativa de fala de Gabriel:

— Pietro...

Ele se aproximara. A voz tornara-se subitamente altiva e retumbante.

— Pietro, meu filho é ignorante em toda a arte. Lamento este ser meu único fracasso...

Desdenhando da falta de modéstia, Pietro reconheceu imediatamente a presença de seu Irmão. Ficara tão surpreso com a capacidade então presente em Gabriel que quase não conseguira balbuciar um cumprimento.

— Quero que você o doutrine por mim. Quero que ele se torne melhor do que eu na arte.

— Mas Irmão... Não seria este apenas um desejo de sua morte? Posso perceber sim, algum dom em Gabriel. Mas nem de longe ele poderia seguir a sua trilha...

— Irmão.— a voz soara mais grave e dolorida, a porta de um mausoléu próximo abriu de supetão em resposta— Bem sabes que esses entraves com o mundo a que não pertencemos enfraquece a energia que nos mantém. Não creio poder surgir novamente e repetir a mensagem. Desconheço a forma de minha morte, mas afirmo que esta era minha vontade em vida. E deve ser seguida.

Pietro assentiu rapidamente. A morte de seu Irmão fora em circunstâncias suspeitas e não teria capacidades para averiguar a verdade que apenas um necromante teria neste momento. Seu Irmão pouco sabia sobre a força que ainda tinha, mesmo sem um corpo físico de sua posse. Tomando o corpo de seu filho, que apresentara alguns domínios sobre a energia, ele conseguira mover do caixão e para fora de seu mausoléu um esqueleto bastante antigo, um emissário de seu poder. (Pietro comumente chamava-os de Zé ou Tião ou qualquer nome simples que lhe viesse à cabeça).

Talvez, de forma inconsciente, ele indicara a resposta para a resolução de seu próprio assassinato. Apesar de lidar com tanta frieza com o assunto, Pietro condoera-se pela morte prematura de seu Irmão de Ordem. Naqueles tempos, era muito raro encontrar alguém tão capacitado para domar as linhas de energia como os dois eram. Juntos, logicamente, conseguiam bem mais do que limpar sepulturas em estado de abandono. Agora, isso era tudo que restara a Pietro...

Esperou mais algumas instruções, respondendo com a voz embargada, mas evitando as lágrimas. De certo que ensinaria a seu filho todas as linhas da arte. E mesmo que demorasse uma vida inteira eles encontrariam o atirador. E nem a morte poderia evitar a vingança.

Depois Gabriel piscou aturdido sem compreender por instantes porque seu tio o encarava lívido.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Prelúdio de um crápula juvenil

Eric Harper

Convencido? Hahaha! Não preciso disso. Meus magníficos atributos são proferidos pelos doces lábios das damas que me visitam....

Qual é seu nome?
Eric Harper.
Como é sua aparência? Como as pessoas te veêm? Como tu te vê?
Ruivo, olhos azuis, com 1,98 costumava ser o mais alto da turma. As pessoas me vêem como um rapaz boa pinta, mas despojado. Dificilmente uso trajes formais, mas também não aprecio jeans e malhas. É, posso dizer que calças e camisas sociais costumam sair com mais freqüência do meu guarda-roupa.
Nasceu em que dia?
28 de outubro de 1992.
Aonde você nasceu?
Toronto, província de Ontário, Canadá.
Quem são seus pais? O que eles fazem? Como eles influenciaram o ser que você é hoje?
Stephen Harper e Laureen Harper. Minha mãe, pelo que me lembro, sempre foi muito passiva, cuidando da casa quase como uma das demais empregadas. Meu pai é administrador e muito rígido. Viaja muito a negócios. Vê em mim uma ameaça e uma chance de dar continuidade aos seus interesses. Nossa semelhança deve fazê-lo sentir-se acuado, bem como meu interesse em medicina adquirido após o “high school”. Muito jovem fui encaminhado para o colégio interno, logo que minha família mudou-se pra LA. Então não posso dizer que sofri muitas influências dos dois, pois vivi a maior parte do tempo estudando. Não creio que tal influência exista.
Possui irmã(o)(s)? Como se relaciona com eles?
Desconheço a existência de irmãos. Acho, inclusive, que meu nascimento foi acidental. Família extensa nunca esteve nos planos de meu pai.
Quanto aos estudos? Qual sua formação? Algo no colégio te ajudou a chegar nesse ponto?
Completei o high school recentemente. Durante o tempo do colégio, estudei com pessoas que me fizeram ter profundo interesse em medicina, como a família de Ian Rustamov. A família de Ian também é do Canadá e são por tradição médicos, enfermeiros e parteiros em províncias carentes destes serviços.
Quais seus hobbys? O que você faz para passar o tempo?
Tenho uma habilidade para truques que envolvam rápidos movimentos de mãos. Aprecio um jogo de cartas e abuso da empatia excepcional que tenho para perceber variações emocionais tanto no carteado quanto nas investidas amorosas.
Você pratica algum esporte? É bom em alguma atividade física?
Esgrima, no colégio costumava praticar bastante, inclusive participei de alguns campeonatos. Essas exibições de performance masculina costumam aglomerar muitas mulheres...
Quanto aos teus relacionamentos? Possui algum grande amigo(a)? Alguma relação especial?
Ian Rustamov foi um grande amigo de quem me aproximei sobretudo por causa do local de nascimento. Philip Harvey, embora o Marcos não tenha me detalhado como, a princípio eles se conhecem.
Hoje em dia o sexo está banalizado. O que você pensa sobre o assunto? Já teve/tem relações?
Penso o tempo todo. A princípio acreditei que fosse uma questão hormonal, mas transformei-o em arte. Já tive relações sim, com mulheres que ainda me visitam. No colégio e na casa de meu pai também. No entanto, nunca desenvolvi sentimentos possessivos por nenhuma delas. Acho que a preferência das mulheres por um homem ou outro depende do talento dele.
Você possui algum valor moral/ético que acredita deve ser defendido e/ou preservado?
Todos. Um bom conquistador deve ter todos os valores éticos e morais impecáveis diante das damas. Mas isso não significa, obviamente, que correspondam as minhas reais intenções. É só uma questão de saber exatamente qual valor tem peso maior para a dama em questão.
A religião é algo presente no seu dia a dia? Qual sua formação religiosa?
Não. O colégio tentou empurrar conversa religiosa católica sobre mim, mas eu fingia estar interessado enquanto pensava nos pecados da carne. Minha família é católica mas não praticante.
Como um individuo dentro de um ambiente globalizado, o que você acha estar certo/errado dentro de uma visão ampla de mundo?
Lógico que depende de ponto de vista. Certo e errado não podem ser definidos numa cartilha, vai depender dos valores em questão e das pessoas envolvidas. Posso ser extremamente imprevisível neste quesito.
A tecnologia é a vilã ou a salvadora do mundo? Qual seu grau de dependencia tecnológica?
Desenvolvimento tecnológico é inevitável, o ser humano evolui às custas dele. Dependo de telefones e pagers, mas não tantos de computadores ou televisão. Carros são fundamentais, é lógico. Hoje em dia é difícil impressionar uma dama sem um deles.
Como morador de uma grande cidade você se considera plenamente adaptado a todos os fatores que compõe hoje o mundo urbano? Explique:
Sim. A única coisa que posso julgar natural em mim é a necessidade de envolver-me com todas as fêmeas possíveis. Estou bem posicionado socialmente e tecnologicamente. Não acredito em Deus e nem no diabo, transito com desenvoltura nas ruas e pretendo realizar alguma atividade que me renda algum dinheiro enquanto me divirto.
A natureza é algo que está lá fora ou é um ambiente maior dentro no qual todos estamos inseridos? Explique:
Natureza “mato” é algo que em breve não veremos mais. Agora, entendimento do funcionamento do corpo é algo bastante presente em meus estudos, tanto biológicos como emocionais. É impossível viver sem isso.
Fale aqui das coisas que você gosta, daquilo que move a sua vida e lhe faz se sentir bem:
Gosto de mulheres, de manipulá-las e fazê-las sentir a falta do meu toque, para que assim elas retornem mais vezes. A casa de meu pai é um paraíso onde as mulheres transitam livremente cuidando de suas tarefas. Não existe mulher desgraciosa, apenas com atenção negligenciada, logo, todas merecem apreciação.
Descreva aqui os elementos que tornam o mundo um lugar pior de se viver, me diga o que você não gosta:
Não suporto o calor. Nunca entendi por quê meu pai escolheu a Califórnia para morar. Tolero a presença de homens mas devo dizer que a convivência com eles é puramente estratégica.
Por fim, algo nesse mundo te assusta? Te paralisa de medo? O que você mais teme?
Temo rejeição. Ser ignorado, rejeitado, levar um fora. Até o momento isso nunca aconteceu e uso todos artifícios possíveis para que as pessoas realmente me amem. Este amor cria uma dependência dos outros por mim, porque, afinal, dependo dessa apreciação.

Prelúdio de campanha em andamento

Andarilho do Asfalto Theurge


Eu não nasci no mundo de Gaia.
Quando aqui cheguei ele já estava tomado pela Wyrm. Nunca vi aquelas florestas enormes, a não ser por figuras em livros. Nunca vi um mortal ou Garou serem gentis e afáveis. Já vim ao mundo como o resultado indesejado de uma aventura: com a marca da impureza. Assim sendo, apenas com a vontade débil e tênue dEla é que um casal de parentes aceitou iniciar minha educação. E nossa relação nunca passou muito disso.
Cresci sendo vigiada a distância. O fato de parentes me terem sob sua guarda nunca aliviou nenhum dos Garou das redondezas. Sempre havia alguém lá para tentar deter meu frenesi, para evitar que eu entrasse em contato com as pessoas erradas, sempre sabendo mais da minha vida do que eu própria. Durante muitos anos acreditei que fosse uma forma de carinho.
Então chegou o dia de conhecer o Caern. Estava ansiosa por saber mais sobre meus verdadeiros pais. Observava a todos os Garou com atenção, dois deles seriam meus pais. Nunca os tratei com exagerada deferência ou com indiferença. Cada informação era preciosa.
Mas eles nunca falaram. Nunca comentaram nada. A princípio acreditei que como durante toda minha infância eles queriam me preservar...mas apenas estavam preservando a si mesmos.
Nas longas horas de solidão e dor eu podia contar com os espíritos. Para eles somos todos aberrações destoantes do mundo que nos cerca. O fato de terem contato com uma aberração em especial não fazia muita diferença.
Os anos podem ter passado muito vagarosamente pra você que não aturava mais aquelas aulinhas chatas na escola, com aquele monte de crianças estranhas ao seu redor se sentindo um animal enjaulado...pois eu me sinto assim todos os dias da minha vida, entre mortais, garou, lupinos...perdi o vínculo com Gaia desde a minha chegada a este mundo. Cada doloroso dia é insuportável e esperanças pro futuro não há.
Os garou não gostam das minhas visões de sangue, morte e destruição, mas eles estão cegos. Querem ver coisas bonitas que estão tão distantes da nossa natureza...da sua natureza.
Apenas meu sangue Andarilho ainda me prende a esta terra. Se não fosse por essa minha incrível afinidade com a cidade, eu já estaria na Umbra, com os espíritos, aprendendo coisas com eles. Os espíritos estão distantes dessa dor e sofrimento...ou eu acredito que podem me manter distante disso.
Mesmo depois de ingressar na vida do Caern, continuei mais próxima dos Roedores do que os demais. Creio que isto possa estar relacionado com a tribo de meus pais. Eu sinceramente não me importo se eles forem roedores. Não há como eles me tratarem com mais indiferença do que têm feito.
Ah, sim. O fato de eu ter dito que não nasci no mundo de Gaia não significa que eu tenha alguma mácula da Wyrm. A mácula que tenho é excesso de amor pela Mãe, que de certa forma foi a única a me tratar bem. Os embates que travo hoje não são pelos garou ou mortais do presente, e sim pelos que virão. Nascer num mundo cada vez mais distante de Gaia gera crianças com tamanha dor, que elas lutarão para que ninguém mais presencie um cenário desses...