quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Dark 1.1

[...]
Durante o tortuoso caminho até os arredores do vilarejo principal Zieg não fizera mais do que responder as perguntas que sua indesejada companhia direcionara-lhe. Passara distante das barracas de tecido e outras quinquilharias que atrairiam a atenção de uma mulher para não deter sua marcha.
Observando-o avançando apressado a sua frente, Ana constatou que Zieg, ainda bastante jovem, era muito delicado para uma missão solitária contra o bandoleiro. A mão apertando firme o cabo da espada não possuía calos do treinamento necessário para domá-la. As longas horas de debates com Reinhardt ou qualquer outro provaria seu verdadeiro gosto pelas atividades intelectuais. Ou seja, Zieg não passava de um almofadinha tentando provar algo a alguém. Sem muito esforço Ana pensara em Brunehilde, pois percebera o desconforto que ele apresentara logo cedo.
— Essa coisa...esse marginal tem nome? O que vamos encontrar?
Zieg continuou esquivando de algumas pessoas distraídas até perceberem a presença real e ceder-lhe passagem. Enfim, olhou de soslaio para Ana e respondeu:
— É Fragonard. Se ele atacar como o costume, serão quinze lobos expostos e sete escondidos. Ele nunca admitiu negociações, embora Brunehilde insista em tentarmos o contato. Acredito que não passe de um selvagem.
— Lobos?Você disse lobos?— Ana estacou subitamente apavorada e imóvel nas cercanias da praça principal.
Zieg retrocedeu e postou-se a seu lado, lançando olhares preocupados ao seu redor.
— Disse, senhorita. Mas não deve se preocupar com os lobos. O atraso apenas nos será desfavorável agora, vamos andando, por favor.
Caminharam mais alguns minutos e os barulhos da cidade já estavam distantes.
— Se ele costuma atacar, como pretende se defender?
Irritado com as perguntas sem imaginação de Ana, Zieg deteve a marcha e desarmou a trouxa que carregava nas costas com um movimento violento. Ele continuava segurando um dos panos, mas um segundo foi atirado longe com o movimento.
— Essas peles nos ocultarão completamente dos lobos.— explicou enquanto a via segurar a pele curtida com nojo na ponta dos dedos.
— Ah, é?—rira.
— Vocês, gente do ocidente, nunca compreendem o poder de nossos amuletos!...— esbravejara Zieg jogando a pele sobre os ombros e cobrindo a cabeça.
— Eu compreendo muitas coisas, Zieg. Não que eu duvide de seu precioso amuleto, mas não quero estar confiante demais nisso quando o bandoleiro estiver perto.
— Sem os lobos ele não poderia fazer nada. Com isso anulamos o seu ataque. Só precisamos chegar até ele...
Sem acreditar muito nas palavras de Zieg, Ana vestiu a pele e imediatamente começou a distinguir vultos floresta adentro. Os cheiros silvestres se tornaram mais acentuados e seus passos mal eram audíveis.
— Ela não só nos deixa imperceptível aos predadores como nos dá a vantagem de contar com os sentidos apurados deles. Deuses! Não deveria estar dando tantas explicações para uma criatura de pouca fé!
— Fé todos nós temos, em uma coisa ou outra...
Ambos avançavam pela beirada da floresta, subindo por uma escarpa rochosa que terminava abruptamente sobre mais uma fileira de árvores. Logo adiante a chama fraca de uma fogueira era visível, escondida outrora pela escarpa. Com a visão apurada, os dois puderam divisar os lobos espalhados preguiçosamente ao redor do fogo, algumas sombras esgueirando-se na escuridão fria longe das chamas e um homem parado ao centro acariciando os pelos de um lobo que era quase tão grande quanto ele.
Ele ergueu os olhos brilhantes no sentido da escarpa e farejou o ar. Ana se encolheu mais rente à rocha, tentando acreditar no poder da capa que vestiam.
— Zieg. — cochichara e naquelas condições não era necessário mais do que isso para que o companheiro ouvisse — Alguns homens conseguem ser mais cruéis e abomináveis do que lobos. Não sei o que esse homem costumava fazer antes, mas não sinto qualquer coisa nele agora que o caracterize como mau.
Recordando-se dos poderes que a capa dera em igualdade para ambos, Zieg evitou uma cara de esgar diante da afirmação que a forasteira poderia sentir a respeito de Fragonard. Essas habilidades nunca antes haviam se manifestado longe de Advari, entre os bárbaros do ocidente. Ele apenas fez um gesto para que ela esperasse no topo da escarpa.
[...]

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