terça-feira, 28 de julho de 2009

Andarilho do Asfalto Theurge


Eu não nasci no mundo de Gaia.
Quando aqui cheguei ele já estava tomado pela Wyrm. Nunca vi aquelas florestas enormes, a não ser por figuras em livros. Nunca vi um mortal ou Garou serem gentis e afáveis. Já vim ao mundo como o resultado indesejado de uma aventura: com a marca da impureza. Assim sendo, apenas com a vontade débil e tênue dEla é que um casal de parentes aceitou iniciar minha educação. E nossa relação nunca passou muito disso.
Cresci sendo vigiada a distância. O fato de parentes me terem sob sua guarda nunca aliviou nenhum dos Garou das redondezas. Sempre havia alguém lá para tentar deter meu frenesi, para evitar que eu entrasse em contato com as pessoas erradas, sempre sabendo mais da minha vida do que eu própria. Durante muitos anos acreditei que fosse uma forma de carinho.
Então chegou o dia de conhecer o Caern. Estava ansiosa por saber mais sobre meus verdadeiros pais. Observava a todos os Garou com atenção, dois deles seriam meus pais. Nunca os tratei com exagerada deferência ou com indiferença. Cada informação era preciosa.
Mas eles nunca falaram. Nunca comentaram nada. A princípio acreditei que como durante toda minha infância eles queriam me preservar...mas apenas estavam preservando a si mesmos.
Nas longas horas de solidão e dor eu podia contar com os espíritos. Para eles somos todos aberrações destoantes do mundo que nos cerca. O fato de terem contato com uma aberração em especial não fazia muita diferença.
Os anos podem ter passado muito vagarosamente pra você que não aturava mais aquelas aulinhas chatas na escola, com aquele monte de crianças estranhas ao seu redor se sentindo um animal enjaulado...pois eu me sinto assim todos os dias da minha vida, entre mortais, garou, lupinos...perdi o vínculo com Gaia desde a minha chegada a este mundo. Cada doloroso dia é insuportável e esperanças pro futuro não há.
Os garou não gostam das minhas visões de sangue, morte e destruição, mas eles estão cegos. Querem ver coisas bonitas que estão tão distantes da nossa natureza...da sua natureza.
Apenas meu sangue Andarilho ainda me prende a esta terra. Se não fosse por essa minha incrível afinidade com a cidade, eu já estaria na Umbra, com os espíritos, aprendendo coisas com eles. Os espíritos estão distantes dessa dor e sofrimento...ou eu acredito que podem me manter distante disso.
Mesmo depois de ingressar na vida do Caern, continuei mais próxima dos Roedores do que os demais. Creio que isto possa estar relacionado com a tribo de meus pais. Eu sinceramente não me importo se eles forem roedores. Não há como eles me tratarem com mais indiferença do que têm feito.
Ah, sim. O fato de eu ter dito que não nasci no mundo de Gaia não significa que eu tenha alguma mácula da Wyrm. A mácula que tenho é excesso de amor pela Mãe, que de certa forma foi a única a me tratar bem. Os embates que travo hoje não são pelos garou ou mortais do presente, e sim pelos que virão. Nascer num mundo cada vez mais distante de Gaia gera crianças com tamanha dor, que elas lutarão para que ninguém mais presencie um cenário desses...

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